E depois há outros dias que "ça va", vai-se passando agradavelmente!...

Há dias em que tenho de contar uma ou outra mentirinha a mim própria para ver se consigo viver aqui...

Regressei há uma semana para a Suiça. De todos os dias das férias aproveitei muito em todos os sentidos -  cumpri a minha lista de visitas, tarefas, mimos a dar, compras a fazer, coisas a comer, cozinhar, etc. Se soube bem e recuperei baterias? Sim, ajudou-me muito a regressar. Se chegou? Nunca chega. Acho que nem chego a aproveitar a 100% todos os sentimentos só de pensar que em poucos dias vão ficar sem o que me faz usufruir deles. Isto só vem dar razão à velha máxima de que só damos valor quando perdemos as coisas. No meu caso [que sempre dei muito valor à família, amigos e à vida que deixei em pausa em Portugal] posso transformá-la um pouco - passei a dar ainda mais valor ao tudo que lá ficou.

Mas não gosto de dramatizar, de falar como se me lamuriasse da minha decisão, de não aceitar que será assim. Faço tudo o que posso para levar esta distância na melhor das descontracções possíveis. Possíveis, sim. Evito pensar durante muito tempo e de forma focada nas minhas pessoas do coração, evito contar o tempo que já passou ou o que falta. Evito pensar que vou perder momentos que não se vão repetir, que não vou puder estar presente quando precisarem de mim ou precisar deles. Mas foi isto que eu escolhi, tenho as minhas razões, custe o que custar é porque acho que vai valer a pena. Bem sei que também dói a quem ficou, é o peso do amor verdadeiro. Há quem compreenda e apoie, outros assim assim. Cada qual sente à sua maneira.

Às vezes só queria poder falar abertamente com alguém sobre os prós e os contras, expor os meus motivos sobre o que faria falta se estivesse a viver em Portugal e o que me faz falta aqui. Com o meu Mariazito não pois sendo como é, bem mais "despegado", sinto que não me compreenderia totalmente. Com as pessoas do coração também não (à excepção de 2 ou 3) - com a vontade de me terem lá, sinto que também não compreenderiam totalmente.

Assim, vou escrevendo por aqui.

Experiência fantástica!

Há uns dias, durante as minhas férias, tive a oportunidade de concretizar a minha enorme vontade de visitar a loja Dama de Copas! Tanto eu como a minha mami  ficámos encantadas com tudo, desde a decoração ao atendimento, sem esquecer obviamente a lingerie, ÚNICA e PERFEITA! Fiquei com o desejo de renovar rapidamente o meu armário por inteiro!... E agora percebo a impossibilidade dos soutiens "normais" servirem a toda a gente!...simplesmente não existem por aí em qualquer loja comum de centro comercial!

Deixo aqui a prova do meu principal erro, o tamanho de costas! A correcção fez-me passar de um 38 para um 28, cerca de 20cm's a menos no apoio do tórax - ou seja, não andava a segurar nada! Quanto à copa, da B e C (tenho vários tamanhos em difernetes soutiens) para uma E - andava mesmo "apertada" ou com metade na mama na axila de estar tão à larga nas costas!

Com estas imagens já dá para ter uma ideia do antes e depois, mas nada como ver a diferença com uma peça de roupa, é um efeito incrível tanto visualmente como na auto-estima!  

Já deu para perceber como fiquei contente e com vontade de trocar toda a roupa interior!

Além disto, ainda aprendi imensas coisas como vestir correctamente o soutien, como deve ser guardado, lavado e seco e como o devemos preservar não usando o mesmo nunca mais que 2dias para que as fibras elásticas do tecido possam "descansar". Falta-me substitui-los lentamente, pois são bem caritos! 

Do viver longe

Viver longe, prefiro. Não gosto da palavra "emigrante", não sei bem porquê. Acho que é por ter um desejo enorme de regressar definitivamente quando esta aventura ainda há pouco começou. Mas o que eu queria mesmo dizer é o facto de que só agora compreendo o valor que têm algumas coisas - para quem as pode usufruir quando deseja, talvez banais - para quem vive distante do seu país, relíquias. 

Por exemplo: Eu fiz uma lista das coisas que queria visitar/fazer/comprar/comer durante as minhas férias. Eu senti uma alegria enorme quando vi as matrículas portuguesas a preencher as estradas. Vibrei em andar de transportes públicos, em passear na baixa da cidade, em ir à praia, tomar um bom café, jantar na Ribeira, em ir às lojas de comércio tradicional da minha rua, etc etc etc...

E com o quê que eu vibrei mais? Em estar com as pessoas que trago no coração todos os dias. Mas tudo isto junto faz um todo que me "puxa" incessantemente para este Portugal que eu adoro.

As primeiras 7semanas da nova vida, finalmente!

Os primeiros quinze dias não foram agradáveis pois resolvi aproveitar as anteriores férias para extrair o meu último dente do sizo e tive uma surpresa! Pela primeira vez, problemas pós-operatórios tardios, que só se manifestaram depois de já estar aqui. Alveolite purulenta, nem queiram saber o quão feio é!

[Esta alveolite é mesmo minha!]

Tinha dores que se irradiavam até à garganta e ao ouvido!...Tive de tomar 2caixas seguidas de antibióticos e antiflamatórios de 8/8horas por mais de 3semanas!!! Nem quero pensar no estado da minha língua, sintoma da intoxicação a que o meu fígado teve de ser sujeito com tantas drogas e por tanto tempo!... Mas lá se passou, estive entretida com os últimos retoques do lar, as últimas compras para a sala e cozinha, primeiras noites na cama XXL e refeições a 2! Acho que entrei em modo "levitar" por esta altura. Trabalhava as minhas horas, On e Off no francês, dormir, comer e namorar e tudo corria bem. As saudades ainda se suportavam...

Depois o "meu" velhinho de 93 anos rijos, que já tão bem conhecia e com o qual aprendi a lidar, sofre uma queda. Quando soube que estava no hospital nunca pensei que fosse tão grave. Mas foi, teve uma hemorragia cerebral e durou 4dias em coma. Após quase 3meses a fazer umas 3 a 4 noites semanais com ele e bastantes tardes de passeios, muito era o apego que já lhe tinha, ensinou-me muitas coisas. Partilhamos outras tantas. Da vida, de francês, de italiano. Identificava-me tanto com a sua paixão pelos seus pais e pela sua família!!! Foram dias chatos e noites tristes. Assisti sozinha às suas últimas horas no hospital e nunca me hei-de esquecer disso, daquela chamada agonia ("luta contra a morte")   que tanto estudei e nunca tinha presenciado tão de perto, continuamente, com já tanto carinho envolvido. Felizmente que nesse dia tudo se conjugou da melhor forma, 5minutos depois daquele fim e enquanto as enfermeiras ainda preparavam o corpo, ele apareceu saído do trabalho para me abraçar e ficar comigo. Para avisar o família em francês, já que não me sentia capaz de tal! Ficamos por lá até chegarem, são pessoas maravilhosas. Aos poucos, o alívio daqueles dias dolorosos foi ganhando lugar... A cerimónia fúnebre ajudou a isso, têm uma cultura muito diferente da nossa e sobre a qual falarei noutro dia pois fiquei mesmo surpreendida.

De novo sem trabalho ao fim de quase 3meses, o nosso futuro deixava-me de novo ansiosa. Mas tranquila ao mesmo tempo, não sei explicar. Era como se sentisse que tudo se iria resolver. Já o Mariazito foi "atacado" com a sua gastrite, tenho um rapaz muito sensível que não gosta de lidar com imprevistos. É engraçado, a imagem que passa aos outros é de ser um durão mas é exactamente o oposto, um doce!...Adiante, após uns dias o filho do "meu" velhinho ligou-me pois tinha algo a propor-me. Gostou muito da forma como tratei do pai dele, ele e a esposa agradeceram-me imensas vezes e propuseram-me experimentar trabalhar na clínica de dermatologia deles a partir de Novembro. Fiquei contente por ser assim, afinal eles não tinham de se preocupar comigo nem nenhuma obrigação de o fazer. Já quando me fez o contrato de trabalho que me possibilitou a obtenção do visto de permanência no país foi espectacular, tratou de tudo com os administrativos e depois chamou-me para assinar. São pessoas com classe,simpáticos e simples apesar do seu estatuto social e económico. Eles confiam em mim e querem dar-me uma oportunidade de trabalho sem me conhecerem grande coisa... parte disto deve-se a uma tia do meu Mariazito que trabalha para eles há mais de 30anos e é como se já fizesse parte da família. Dizem que sou como a Maria, para guardar. A outra parte disto penso dever-se ao trabalho de reabilitação que o meu rapaz fez com o "meu" velhinho, em Março e Abril durante algumas horas ao final da tarde, de uns passos inseguros dentro de casa pô-lo a fazer longas passeatas na rua com a ajuda de um guarda-chuva a fazer de canadiana (ele detestava tudo o que fizesse sentir mais dependente, daí a recusa em usar bengala, canadiana,etc...). 

E pronto, tenho um novo desafio pela frente daqui a semanas. 
Durante o resto de Setembro e Outubro vou frequentar um curso intensivo de francês para me sentir mais confiante, esta língua ainda está um pouco "verde" demais para o meu gosto. 

Aqui pelo meio ainda tive um ataquezito qualquer que me fez vomitar numa noite, o que não esquecerei por ser a primeira "maleita" fora do ninho dos pais,hehe! Acho que me parou a digestão por 24h após ter comido pimentos vermelhos!...

Ah, e mais outra: comecei a utilizar um creme que os Srs novos patrões gentilmente me ofereceram e fiz uma grande alergia ao princípio activo - peróxido de benzoílo! Lá que a substância contra o dito acne resulta, lá isso é verdade...mas fiquei uns 2 dias cheia de prurido, calor, vermelhidão e edema na cara e pescoço!

Ufa...estava a ver que tudo me acontecia nestas 7semanas de começo da nova vida!!Mas já passou e agora está tudo a "encaixar-se"... 
De momento ainda tenho  mais uns dias em Portugal, na casa dos papis, vou aproveitar muito bem para recarregar as baterias para a temporada de Outuno-Inverno! 

Ele já se foi no domingo passado pois só tinha 10dias de férias, apanho-o para a semana! :)